domingo, 12 de dezembro de 2021

Não o Minotauro - mas o Algoritmo

" Ele sabe os nomes mais ínfimos,/ consultas, inquéritos, reservas e compras,/ as dúvidas nunca resolvidas,/ lentamente esquecidas,/ palavras-passe antigas,/ substituídas;// sabe as datas, os aniversários,/ mesmo o spam que nunca foi aberto,/ respostas, reencaminhamentos, o instante preciso/ de um equívoco,/ depois alguém morreu/ e não foste a tempo de pedir desculpa (...) sabe até às vísceras/ o caminho dos dedos na rede do corpo,/ o sentido da vida, o lema secreto,/ as três fobias mais populares, e ainda/ a grelha de detecção de sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo,/ e ainda que não és um robot, porque/ identificas sinais de trânsito, caixas de correio, semáforos,/ sabe/ todos os teus gostos, desgostos, e o que te é/ indiferente, irrelevante, ofensivo ou já adquirido,// o esperanto dos teus sonhos,/ as tuas juras em vão,/ os mandamentos traídos,/ as confidências falando do túmulo (...) o algoritmo,/ como outrora Deus,/ sabe tudo,// e compreender-te-á/ melhor do que/ ninguém.” ( Pedro Eiras , Inferno )

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